O conto por inteiro. Foi bom o Márcio lembrar, afinal temos confrades novos aqui quase todo dia !

A VINGANÇA DO e-BAY VENDOR
Após sua última rápida missão, (vide: ¨O SUMIÇO DOS APARELHOS GILLETTE FAT BOY¨) Zeca teve algum tempo para organizar um projeto antigo: Voltar a estudar.
Tinha feito Administração de Empresas, mas isso foi há muito tempo. Ademais ele não vinha se atualizando nessa área, porque o seu foco era outro bem menos administrativo, digamos.
Naquela manhã conhecera a Universidade. Já obtivera outras informações, mas precisava conhecer o ambiente. E também era necessário passar por uma entrevista, já que ele queria fazer estudos de Pós-graduação.
A Universidade era privada e além da contrapartida financeira, prova e títulos acadêmicos, o seu curriculum também teve de ser apresentado. As lacunas do tempo em que ficara num estabelecimento do Governo Estadual foram explicadas na entrevista.
A conversa melhorou quando descobriram que entrevistado e entrevistador eram wetshavers. Sim, há wetshavers em todos os lugares e isso, além do pagamento de um semestre adiantado, pode ter ajudado na aprovação de Zeca.
Mas o entrevistador ficou deveras incomodado com o aspecto carcerário da vida de Zeca. Era um acadêmico no pior sentido da palavra, daqueles que nunca fizeram um trabalho de campo, ou sequer um intercâmbio de alguns meses.
E há muitos acadêmicos destes por aí, em cargos de comando inclusive. Como entender o mundo lá fora se ¨os mundos lá de fora¨ são apenas os jardins bem cuidados de uma Universidade ?
Zeca, no entanto, ia numa outra direção. Interessava a ele o mundo da Psicologia. Tivera o primeiro contato com ela no curso de graduação, numa disciplina cujo nome era o mais óbvio de todos: ¨Psicologia Aplicada a Administração¨. A partir daí lera, ou tentara ler, os autores e luminares da Psicologia.
Ultimamente, Vandicreusa, sua desde sempre namorada/esposa, tinha que ficar ouvindo citações e frases de estudiosos da psicologia. Zeca repetia as frases sobre a matéria nos mais diversos momentos. A despeito disso ser chato pra caramba, Vandicreusa relevava. O amor tem mesmo esse aspecto de renúncia, e a própria psicologia deve explicar isso, certamente.
Mas a entrevista terminara e Zeca despediu-se. Saiu por outra ala daquela enorme universidade. Não eram vozes imaginárias que ouvira quando se encaminhava para a entrevista. Os seus radares mentais lhe diziam que ele fora seguido. Um ¨sombra¨, como dizia seu primeiro instrutor, estava na sua ¨cola¨.
II
Sombra era o nome que o seu instrutor usava para os que tentavam seguir um agente treinado. Esta fora outra ¨universidade¨ que Zeca frequentara, séculos atrás ... ( séculos ? Puts, que hipérbole batida...)
De novo:
Esta fora outra ¨universidade¨ que Zeca frequentara, há zilhões de décadas.
Um mestre em livros de espionagem já escreveu num de seus livros: ¨ nesta academia nós não treinamos ninguém, nós tentamos matá-los¨. Esta era a melhor definição para o lugar onde Zeca fizera o seu treinamento. Saíra de lá vivo e isso já é dizer muito. Batedor/Atirador de Elite dos melhores e Observador (o cara que fica ao lado do Atirador de elite) sempre escolhido como parceiro em primeiro lugar. Treinou outras coisas também, e uma dessas coisas salvou a sua vida mais de uma vez no mundo real.
Zeca acabara de rever o seu ¨sombra¨ no estacionamento da Universidade. Ele estava dentro de um carro, e vigiava o carro de Zeca, mas tinha sua atenção também voltada para o entrada do prédio onde minutos antes acontecera a entrevista.
Zeca deu a volta e se posicionou atrás do carro do ¨sombra¨ protegido pelo exuberante jardim. Nesse momento começou a sair fumaça de uma das enormes latas de lixo reciclável, na lateral do prédio. O fogo foi iniciado pelo próprio Zeca e serviu para chamar a atenção de todos os que estavam no estacionamento. Chamou atenção também do seu perseguidor que, por alguns segundos, olhou para a fumaça. Foi o bastante para Zeca entrar no carro e ameaçar o motorista com sua arma. Lição do dia: Quando for para a Universidade, leve a sua Glock.
- Tá me seguindo, ô pilantra ! Vai, liga esse carro e vamos saindo devagar...
- Não, cara ! como é que tu entrou aqui, meu ?
- Vai saindo, na maciota, que eu não vou pedir de novo, porra !!
O carro deixou o estacionamento da Universidade e pegou uma das vias expressas. Depois uma estrada vicinal, sem pedágio.
Zeca tinha um lugar certo para aquela situação.
III
A chácara era um lugar tranquilo. Vizinhos distantes, rua de terra ainda. Zeca usava o lugar para treinamento de tiro. Chegaram lá bem rápido. Dentro da ampla garagem, Zeca começa :
- Não quero nem saber o que você pretendia, seu mané... Mas tenho uma coisa legal pra você aqui.
Zeca disse isso mostrando ao picareta do ebay um pincel de barbear ordinário, com espuma numa tigela ao lado.
- O que é isso ? Cê é louco das idéia, mano ? Tu vai fazer ¨as¨ barba agora ?
Zeca libera as mãos do incauto vendedor e por trás dele, ordena:
- Pega o pincel e espalha a espuma na tua cara. E vai logo, seu merda !!
Espantado com a esquisita ordem, o vendedor faz o que Zeca pediu de maneira tão ¨gentil¨. Como o infeliz nunca usara um pincel de barbear na vida, a cena foi risível.
Zeca algema novamente a sua vítima. Coloca um capuz no atarantado vendedor.Ouve um barulho lá fora e verifica que é o seu carro, trazido por alguém do escritório.
Tudo parecia uma operação planejada, mas não era nada disso.
Na sequência, o vendedor e seu carro são deixados em um matagal distante dali.Zeca e Bocão voltam para a chácara no carro de Zeca e conversam no caminho.
- E então Bocão, nada de câmera lá na escola ?
- No estacionamento não. Falei com um chapa lá e dei uma geral. Tudo limpeza.
No matagal o vendedor percebe que está sozinho, o barulho é de um lugar no meio do mato mesmo. Ele consegue se sentar dentro do carro, mas alguma coisa na sua mente diz que fez muito esforço para isso... O veneno colocado na espuma de barbear já fazia o seu maléfico efeito. Mortal.
Paralisia dos músculos, todos eles.
Veneno, destilado ou não, é para pessoas como o Zeca, profissionais ...
FIM