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Fogo... é fogo!
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Topic: Fogo... é fogo! (Read 1592 times)
Gago
Monsieur Thiers Issard
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D.Quijote de La Toja
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Fogo... é fogo!
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February 16, 2015, 09:40:56 pm »
+1
Não sei quem aqui já presenciou um incêndio. Não digo pela TV ou de ouvir falar, e sim
estar lá
.
Queira Deus que ninguém. É uma experiência aterrorizante e que nunca se esquece.
Hoje li com muita tristeza no portal da Globo.com a notícia de que um incêndio destruiu parte do Shopping Nova América, na zona norte do Rio, não muito longe da Barra da Tijuca / Recreio pela linha amarela. Para quem não sabe, o shopping Nova América ocupa o prédio que um dia foi a Companhia de Tecidos Nova América (existiu entre 1925-1991) , que por sua vez, foi a maior responsável pela ocupação e urbanização dos bairros adjacentes, principalmente Del Castilho, onde construiu diversas casas para seus trabalhadores.
Graças aos céus, hoje é Segunda de Carnaval, e o shopping na hora estava fechado. Dizem que o incêndio começou numa loja no segundo andar e se alastrou através do telhado.
Ainda assim, o shopping não estava isento de ocupantes. Vários funcionários e donos de estabelecimentos estavam chegando e se preparando para começar mais uma jornada de trabalho para garantir o leite das crianças, enquanto a maior parte da população estava à essa hora mamada na bebida, quando viram a fumaça preta surgir. Felizmente foi fácil evacuar o local, coisa que teria sido quase impossível, estivesse lotado.
Se um dia você ver fumaça negra dentro de uma edificação, amigo.... CORRE! A fumaça é apenas o início dos seus problemas. Ela começa branda, você pensa que não é "nada demais" e do nada, aquela labaredazinha que consumia uma peça se tornou um rastro de destruição, liberando colunas de fumaça negra como o breu. Você começa a tossir a fumaça tóxica, e o seu maior problema se tornam outras pessoas, te empurrando e lutando pela vida. o fogo vem só no final, para consumir a carne, na imensa maioria das vezes as pessoas morrem asfixiadas ou pisoteadas num incêndio.
Eu tinha apenas cinco anos quando assisti, na primeira fila, a fábrica / casa (português tem essa mania danada de construir um prédio que sirva para as duas coisas, que Deus tenha meu avô!) de minha família ser consumida pelas chamas. Era noite, e mesmo de longe dava para ver o céu vermelho como o inferno e as labaredas dançando lugubremente.
Não lembro de tudo que se passou, mas lembro de muitas coisas (quem aqui pode dizer que se lembra de muito quando tinham cinco anos?). Lembro principalmente de que "primeiro veio a fumaça", e de tossir. Tossir como se não fosse mais possível parar. Lembro da minha irmã me agarrando e correndo comigo no colo, e de gritar pelos meus pais que à essa hora estavam fechando a porta corta-fogo para tentar conter o avanço das chamas.
A vinte e quatro anos atrás no bairro do Pilar, assim como hoje em Del Castilho, a tristeza dos donos só não era maior que a tristeza dos funcionários que viam nas chamas não só o físico se ir, mas também seus empregos.
Assim como em Del Castilho, a maioria das casas no minúsculo Bairro do Pilar foram construídas pela empresa que empregava a maior parte dos habitantes. Eu me lembro de ver pessoas que eu nem conhecia chorando, perguntando por mim, pela minha mãe, pelo meu pai...lembro que nessas horas o espírito de solidariedade do humano fala mais alto, e todos me ofereciam casacos, mantos, água, comida e o que mais. Eu só tossia.
Pessoas estas que em 24h estariam desempregadas, estavam ali mais preocupadas com seus empregadores do que com seus empregos. Também pudera, meus pais sempre foram pessoas simples e de bom coração. Não era raro almoçarmos no refeitório com os funcionários, comemorarmos aniversários deles... havia até um time de futebol da fábrica que meu pai levava na kombi para lá e pra cá. Ah... a Kombi...pois é, ela estava na garagem nessa hora. A Kombi que levou vencedores e vencidos, que carregou não só capachos, que afinal era o ques e fazia lá, mas também peixes das diversas pescarias que faziam, carregou o "Seu Quita" para o hospital quando um bando invadiu sua casa e atiraram no pobre velho manco...carregou vidas, e sonhos. Sonhos que acabaram no fogo.
O que eu não me lembro, é de ter chorado. Estranho mas lá estava eu, uma pirralho imberbe, vendo aquilo que sua família construiu sendo devorado pelo fogo...numa tranquilidade que só a inocência provê. Já não posso dizer o mesmo de meu pai, que surgiu do nada com as roupas em frangalhos, a cara preta de fuligem só lavada pelas lágrimas que caiam e cessaram quando me viu.
- "Campeão ( o pai sempre me chamou assim. Parou quando tinha idade suficiente para desaponta-lo), não se preocupe!"
Eu não me preocupei mesmo,afinal não sabia que diabos estava acontecendo.
Mas bem, meus pais eram demasiado teimosos para deixar a vida lhes dizer o que fazer. Morei um tempo com uma tia mas logo a fábrica havia sido reconstruída, consumindo toda a poupança feita ao longo dos anos.
Lembro que a porta corta-fogo realmente funcionou, e impediu que as chamas chegassem dentro da
casa
propriamente dita (o segundo andar onde haviam os quartos, cozinha,etc), felizmente.
Lembro de ver uma fila de funcionários aparecer no dia seguinte para limpar os escombros e tentar recuperar algo - em vão. Os teares mecânicos que meu pai mandou vir da Venezuela para substituir os manuais, viraram ferro retorcido ainda desmontados em suas caixas. As mesas e mobília, de madeira, havia virado pó. Os armários onde o pessoal guardavam suas coisas funcionaram... como um forno; tostaram tudo que tinha dentro.
Eventualmente, tudo foi reconstruído, era o jeito do meu pai mandar o destino às favas. Tudo foi feito exatamente como era, no mesmo local. Só que, como não havia dinheiro suficiente, aquele maquinário novinho importado nunca viu a luz do dia e voltou-se a usar teares mecânicos. Hoje, talvez, não fosse essa traquinagem da vida, seríamos uma grande empresa. Ainda somos uma empresa, e a Templário Comércio de tapeçarias segue viva no mesmo local.
É isto que eu desejo de coração para os microempresários que tiveram suas lojas consumidas pelo fogo hoje. Sei que o shopping naturalmente tem um seguro...mas infelizmente o seguro só "segura" até certo ponto. Haverá uma perícia que vai demorar como o caceta ( e enquanto isso as contas chegando!) que eventualmente vai liberar o dinheiro, que jamais cobre tudo que se perdeu. Para não falar do tempo em que essas pessoas (empregadores e empregados) ficarão privadas de uma fonte de renda - se é que todos vão recuperar, mas a história diz que não é bem assim.
Para quem leu isso tudo, desculpem o desabafo e obrigado. Confesso que fiquei emocionado em ver essa tragédia, e me identifiquei com o inferno que essas pessoas passarão,. Escrever isto aqui foi uma espécia de terapia, mas eu espero que a história possa ensinar qualquer coisa à quem leu.
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RC
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Marinheiro num Veleiro
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Re: Fogo... é fogo!
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Reply #1 on:
February 16, 2015, 10:34:01 pm »
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Lamento o que te aconteceu quando garoto. Todos nós temos os altos e baixos na vida, vi no telejornal o incêndio no shopping, realmente é bem triste para todos, empregados e empregadores. Também já passei por momentos difíceis com esposa e três filhas pequenas pra cuidar, mas a vida é assim mesmo, temos que ser como a Fenix, renascer das cinzas. Costumo dizer que a vida é como as "ondas do mar" tudo vem e volta, nada é prá sempre, nem os bons nem os maus momentos. Que Deus ajude à todos neste momento.
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udrako
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No consultório do DR Harris
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More Majorum
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Re: Fogo... é fogo!
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Reply #2 on:
February 17, 2015, 12:15:27 am »
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FML
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Rocket Man
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Re: Fogo... é fogo!
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Reply #3 on:
February 17, 2015, 12:37:39 am »
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Já assisti a alguns incêndios, mas esta história emocionou-me...
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cariocarj01
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Merkur-o-cromo
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Re: Fogo... é fogo!
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Reply #4 on:
February 17, 2015, 07:42:05 am »
0
Esses acontecimentos são pesados e deixam marcas, marcas que vão com certeza serem amenizadas com o tempo, mas não esquecidas.
Porém o positivo da história é que sua família teve a determinacão de lutar de novo, por tudo em pé outra vez e seguir em frente.
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A verdadeira dificuldade não está em aceitar idéias novas, mas em livrar-se das antigas. (John Maynard Keynes)
Stützel
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Rocket Man
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Stärke und Ehre!!
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Re: Fogo... é fogo!
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Reply #5 on:
February 17, 2015, 12:53:34 pm »
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Gabriel, trabalhei em vários acidentes ... inclusive na tragedia da minha cidade que aconteceu em 2011 ... e forte o sentimentos que nos toma ... Obrigado por compartilhar com os amigos!!
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Hugo_Zeb
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Tech-no-logic
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Sempre a pôr a lâmina nos outros...
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Re: Fogo... é fogo!
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Reply #6 on:
February 17, 2015, 07:46:57 pm »
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Infelizmente já vivi de muito perto uma tal situação... Derivado a uma fuga na chaminé da minha lareira que desconhecia, um alpendre em minha casa (um espaço fechado onde iria "construir" o meu salão com quase 200m2) pegou fogo. Foram momentos de aflição em parte por ter o meu filho bebé e a minha mulher em casa, mas tb porque na inconsciência de ver o que estava a construir a ser consumido, mandei me la pro coração da coisa de mangueira na mão... Nunca pensei em asfixia nem no perigo de desabamento, apenas no que era meu, no meu trabalho que estava a ir com as chamas... Só via fumo e chamas. Ouvia a minha mulher, já fora da nossa propriedade, a dizer as pessoas que não sabia de mim. Ouvi as sirenes. Ouvi o policia, a gritar para sair de onde estava pq o telhado podia desabar. Numa primeira tentativa, desisti, sai dali com o policia a arrastar me dali pra fora. Sai tb da propriedade, e diziam que os bombeiros já vinham a caminho. Vi a minha mulher e o meu filho dentro do carro da policia, para não estarem expostos ao fumo. E ao olhar para trás, ver o fogo a devorar o meu trabalho... Voltei pra la, com o polícia a tentar impedir me, e eu a gritar lhe que era a minha casa que estava ali. E ali fiquei e no que pude, impedi o maldito de se propagar para onde não devia... Só sai de la quando um bombeiro chegou ao meu lado e disse que chegava. Ainda estou para descobrir como é que o meu irmão, para quem a minha mulher ligou nos entre tantos, fez quase 15km em pouco mais de 5min... No fim, depois de ser assistido na ambulância, e já com todo o aparato terminado, parei a olhar para aquilo, olhei para o meu filho, e chorei... Fui inconsciente, mas se calhar se fosse hoje, faria a mesma coisa. No dia seguinte comecei a procurar casa e 2 meses depois mudei me... Era demasiado.
(Pode parecer mentira, exagero ou demasiado fantastico, mas foi o que aconteceu..)
Como diz o amigo Gago "fogo é fogo", o melhor é fugir mas às vezes...
Enfim... Passou...
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