Como prometido, aqui está o tópico sobre o “Shaving made easy”.
Espero que possa ajudar alguns colegas a melhorar a qualidade do seu escanhoado, mas não pretendo aqui desmerecer nenhuma forma de se barbear. Isto funcionou para mim, tornou o processo mais simples, e o barbear mais preciso.
Aqui vou ser sucinto, e ignorar boa parte do livro que fala sobre navalhas, que é algo fora da minha compreensão, e sobre escolha e manutenção de material.
O que é?
“Shaving made easy” na realidade é um livro. Mais precisamente, um livro da virada do século XX, de autor desconhecido, que deu entrada na biblioteca do congresso americano no longínquo ano de 1906.
Como é de domínio público, aqui está o link para a obra em PDF:
https://archive.org/details/shavingmadeeasyw0020th Recomendo fortemente a leitura integral do livro. É pequeno, bem escrito, e eu mesmo li uma ou duas coisas que não sabia.
Tendo dito isto, vamos ao que interessa:
(A partir deste ponto vou destacar em
negrito os parágrafos que são informações repassadas diretamente sobre o livro, sendo o restante minhas impressões pessoais)
Parte I, o pré-barba: Eu experimentei vários tipos de pré-barba; pasta (Proraso), óleos (Art of shaving), creme ( St James of London) e sabões de glicerina ( Musgo Real). Isto para não falar de alguns sabões exfoliantes.
Até toalha quente experimentei, embora a patroa tenha ficado de boa aberta me vendo andar com uma toalha esquentada do micro-ondas.
Hoje me arrisco a dizer que tudo isto é
dispensável, e a toalha quente, sinceramente ao meu ver, só pode funcionar como algo para relaxar a mente, em nada influencia no pelo da barba.
Pelo menos nada que ajude, porque a água quente amacia não só a barba, como a pele do rosto, e isto pode causar cortes que não aconteceriam com o uso de água fria ou a temperatura ambiente.
Uma pele macia e maleável pode ser “abocanhada” entre a barra da safety razor e a lâmina, ao passo que uma pele rígida dificilmente será.
E o próprio pelo da barba, é mais facilmente cortado sendo menos maleável (mais sobre isto mais adiante)
Portanto uma das grandes discussões do barbear clássico, “água quente x água fria” tem uma resposta clara neste livro: Água fria. É claro que isto não impede o uso da água quente, isto depende de cada um, porque haverá aqueles que preferem o uso da agua quente por uma questão de conforto, ainda mais em países com temperatura baixa, onde o uso da água da torneira normalmente fria, realmente pode se tornar incômodo.
Nestes casos eu recomendo um meio-termo, água numa temperatura amena, esquentada apenas numa medida que a torne confortável para uso, o mais fria possível.
A rotina pré-barbear recomendada no livro é simplesmente o uso de água na temperatura ambiente, a limpeza integral do rosto livrando-o de oleosidade e outras impurezas, uma massagem com a ponta dos dedos utilizando a própria espuma do sabão e a aplicação dela com o pincel. E só. Detalhe: a espuma só deve ser aplicada com o rosto totalmente seco, após secagem com uma toalha. Dono de alguns produtos pré-barbear, eu fui cético quanto a isto. Mas pense bem; Já vistes teu pai ou avô usando um pré-barba? O teu barbeiro usa algum produto assim? Sentes alguma diferença significativa usando os mesmos?
No meu caso as três respostas foram “não”, e posso dizer que não tenho usado nenhum deles, a não ser o sabão esfoliante que já uso regularmente de duas a três vezes na semana, no intuito de manter a superfície por onde a lâmina desliza o mais lisa possível.
Isto não quer dizer para não usa-los. Qualquer produto que traga um pouco mais de conforto ao seu barbear é bem-vindo, mas no meu caso não tem feito falta. Serão usados até terminar e não serão repostos, a não ser os sabonetes Musgo Real, único que penso trazer algo a mais para o meu barbear hoje.
Parte II, a espuma: A espuma de barbear, seja ela oriunda de sabões, cremes, sticks ou o que for, ao contrário do que se acredita, não tem como objetivo amolecer o pelo da barba.
O cabelo humano, como sabemos, é um tubo de material duro e fibroso, revestido por uma camada de óleo segregado pelo próprio bulbo capilar. A espuma do sabão de barba tem por objetivo justamente o oposto; entrar em reação com essa oleosidade natural de maneira a anulá-la e penetrar no fio, tornando-o duro e quebradiço, de forma que ele seja uma superfície firme e resistente a ser cortada pela lâmina de barbear.
O contrário disto, usando a água quente, é portanto tornar o cabelo macio e maleável, de forma que a lâmina de barbear, ao tocá-lo, tende a deslizar por cima inteiramente ou dobrá-lo e cortar apenas longitudinalmente, requerendo mais passagens para conseguir o apurado necessário, o que causa irritação. Portanto o uso do pincel de barba serve para trazer o cabelo, que normalmente fica a um ângulo de aproximadamente 30º do rosto o mais próximo possível a 90º, e o sabão o torna duro e quebradiço.
Parte III, o pós-barba:
(Aqui será a tradução literal de a maior parte do parágrafo I do Cáp. XV, ocultando informações menos importantes)
A maioria dos homens pensa que após ter removido a barba, não há mais nada a se fazer. Isso é um grande erro. Eles não dão a importância necessária para um tratamento apropriado da face.
Uma maneira fácil e rápida de cuidar do rosto recém-barbeado é, remover o restante da espuma na face através de uma lavagem com água fria, e então aplicar uma loção de sua preferência, que contenha agentes antissépticos como álcool ou hammamelis, bem como de tratamento da face como glicerina.
Isto é o que a maioria dos homens irão fazer. No entanto, para manter a pele com aspecto saudável, ocasionalmente o seguinte tratamento é recomendado:
Lavar o rosto inteiramente da espuma e aplicar uma toalha o mais quente possível no rosto. O calor e a umidade atraem o sangue para o rosto, abrem os poros e criam uma ação saudável para a pele. A seguir aplique hammamelis e finalmente massageie inteiramente a face. Não há outro tratamento tão benéfico.
- Pessoalmente, é a única parte do livro que eu não sigo, e não me faz falta. Mas já o fiz, e posso dizer que a sensação é agradável, e se puderes sentar-se e relaxar por uns cinco minutos após o barbear, é muito bom, mas nesta época do ano, com o calor que faz aqui, nem pensar.
O que eu faço, é limpar o rosto com Thayers e algodão, para remover qualquer vestígio de espuma dos poros, antes de aplicar a loção e bálsamo (ou não) do dia.
Considerações finais:“Shaving made easy” chegou à minha atenção pela primeira vez ao assistir um vídeo do “Big John” no youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=B87Gk3H3f20Sobre o uso de água fria x quente:
https://www.youtube.com/watch?v=FYR-A0huafk&feature=c4-overview&list=UU3diVKHUKyUeyuC3jhgt0sAE sobre rotinas pré / pós- barbear:
https://www.youtube.com/watch?v=CKAGNK6eaBY&feature=c4-overview&list=UU3diVKHUKyUeyuC3jhgt0sAOutro link interessante é do blog "Art of Manliness", que sei ser do gosto de muitos aqui (eu incluso) e fala especificamente sobre isso, citando passagens sobre outros livros da época:
http://www.artofmanliness.com/2010/03/24/cold-water-shaving/ Não é para levar um livro de mais de cem anos de idade como
A resposta final sobre o barbear. Algumas informações ao longo do livro são irrelevantes hoje, e outras são simplesmente bobas.
Mas isto não desmerece o principal; é um livro que ensina a maneira correta de se barbear para o homem de 100 anos atrás, e que serve até hoje, e isso mostra como nós, ao longo desse século, tentamos complicar o ato de se barbear, que é bastante simples, e inventamos uma série de parafernálias que mais atrapalham do que ajudam. (YMMV)
É claro que isto já é opinião pessoal. Haverá aqueles que gostem da maior quantidade de “opcionais” possíveis, de usar exclusivamente água quente, que enxaguem o rosto a cada passagem, etc, e estes estarão certos também. O certo é aquele método que te traz os melhores resultados, mas no meu caso esta foi a maneira mais simples de obtê-los. O que já saia bem feito antes, agora sai perfeito e em menos tempo, e espero que possa acontecer o mesmo com alguns de vocês depois de ler (tudo) isto.
Cumprimentos,
Gabriel Gago